É interessante reparar que um dos principais motivos porque a rede de transportes públicos é muito mais eficiente nos países do Norte da Europa, ao contrário do que acontece neste canto da Península Ibérica, é porque nesses países os gestores e decisores fazem as suas deslocações utilizando o transporte público, enquanto que aqui preferem o transporte individual. Por isso não sentem as consequências de muitas decisões negativas para os utentes/clientes deste serviço público.
Talvez seja esta uma das razões subjacentes à forma autista com que a administração da STCP está a realizar uma reestruturação da rede de transportes públicos da Área Metropolitana do Porto, criando um serviço muito pior do que existia anteriormente. Esta reestruturação assentou numa forte campanha de marketing, com frases muito bonitas, mas sem nenhuma relação com a realidade, como “Passe com tranquilidade”, ou “Novas Linhas Sempre à Mão” (suprema ironia). No entanto o processo foi sempre gerido, pela STCP, com o maior secretismo e só muito tardiamente, após várias reclamações, foi feita uma audição aos presidentes das Juntas de Freguesia. Realmente é muito pouco, porque numa reestruturação tão profunda era exigível que audição pública fosse alargada ao maior número possível de interessados, nomeadamente às Assembleias de Freguesia, as Comissões de Utentes e o público em geral. É sintomático deste secretismo o facto de a poucos dias da entrada em vigor da “Nova Rede” não se saber nada sobre os novos percursos. Só mais tarde saiu um folheto e, mesmo assim com uma informação muito incompleta, não trazendo, como era exigivel, um mapa global com todas as linhas da rede, que deveria ser complementado com os mapas da rede nocturna e de fim-de-semana. A informação disponibilizada no site da STCP é também muitissimo pobre.
Esta nova rede conta com uma redução de 24 carreiras, ligações mais curtas, maiores transbordos com consequente aumento do tempo dos percursos, além de uma diminuição significativa dos respectivos horários de funcionamento. Para além disso, muitas zonas deixam de ser servidas durante a noite e ao fim-de-semana, dificultando o acesso de muitos cidadãos aos locais onde estão os serviços e equipamentos públicos essenciais (centros de saúde, escolas, cemitérios, repartições, etc).
A STCP como empresa pública tem responsabilidades sociais e económicas, que não se medem apenas pelos seus resultados líquidos, mas também pelo serviço público essencial que presta aos cidadãos e pelo contributo que presta ao desenvolvimento económico da região. Esta reestruturação, tal como está prevista, irá reduzir a qualidade e o alcance do serviço prestado, desincentivando o uso do transporte público e tendo como consequência o previsível aumento de pressão do tráfego automóvel sobre zonas já congestionadas.
Por último, não posso deixar de estranhar (ou talvez não) o silêncio do Presidente da Junta Metropolitana do Porto, Dr. Rui Rio (também Presidente da CMP) em todo este processo, o que indicia naturalmente a sua concordância com o rumo traçado pelo Governo para a STCP, uma vez que esta “reestruturação” é da responsabilidade polítca da respectiva tutela (neste caso o Ministério das Obras Públicas – Secretaria de Estado dos Transportes).