quinta-feira, julho 27, 2006

Lendo Brecht

QUEM SE DEFENDE
Quem se defende porque lhe tiram o ar
Ao lhe apertar a garganta, para este há um parágrafo
Que diz: ele agiu em legitima defesa.
Mas
O mesmo parágrafo silencia
Quando vocês se defendem porque lhes tiram o pão.
E no entanto morre quem não come, e quem não come o suficiente
Morre lentamente.
Durante os anos todos em que morre
Não lhe é permitido se defender

A situação no Médio Oriente vista a partir de Israel




Meir Vilner (1918-2003), um dos signatários da Declaração de Independência do Estado de Israel, liderou o Partido Comunista de Israel e foi uma das principais vozes na luta pela paz e pelos direitos humanos, tanto de judeus como de árabes. Se em Israel houvesse mais dirigentes como ele que procurassem a Paz fundada na Justiça (e não na subjugação e humilhação), como tem acontecido com o chauvinismo militarista de Netanihau, Sharon e Shimon Peretz, toda a situação no Médio-Oriente poderia ser resolvida. O único lider israelita a tentar este caminho foi Rabin, mas foi assassinado pelos apoiantes da continuação deste estado de coisas.

Alguns excertos da entrevista de Meir Vilner ao People's Weekly World:
"Perhaps you have forgotten that in that document we said we are establishing a Jewish state in accordance with the United Nations Resolution of Nov. 9, 1947. It is also written that the State of Israel will cooperate in implementing the UN Resolution of Nov. 29, 1947 which calls for the creation of an independent Arab state. So it means a Jewish state and an Arab state. That is what we signed. All parties."
"In Gaza, the conditions are terrible. The majority is unemployed. Sanitary conditions are terrible. In some places in the West Bank, they don't even have drinking water but 50 meters away the Israeli settlers have swimming pools."
Vilner said. "Wages and living conditions for working people in Israel are going down. The gap between rich and poor is widening. If we achieve peace, we can reduce the two-thirds of the budget that goes for the military, the secret police, for the settlements, for nuclear weapons. Peace would open the way for solving many other social problems.
"I have always stressed that we are defending the rights not only of the Palestinian people but also the Israeli people," he said. "The expansionist policies endanger Israel. In fighting for a just peace, we are the real patriots."

Ler texto integral aqui: http://www.pww.org/archives97/97-07-19-3.html

quarta-feira, julho 26, 2006

Geografia da guerra


(clique para ampliar)
Este mapa (retirado de http://lebanonheartblogs.blogspot.com) representa a localização dos bombardeamentos efectuados por Israel no Líbano entre 12 e 23 de Julho. É curioso observar que apesar de haver uma intensificação dos ataques no Sul, a geografia dos bombardeamentos cobre uniformemente todo o território do Líbano, incluindo as zonas cristãs do Norte, onde não há bastiões do Hezbollah. Aliás praticamente não há nenhuma povoação importante que não tenha sido bombardeada.

Isto significa que a estratégia israelita vai muito mais além do que simplesmente flagelar as posições do Hezbollah. é uma verdadeira operação de "choque e pavor" na definição que Donald Rumsfeld utilizou noutros contextos (Iraque e Afeganistão). Esta operação visa essencialmente aterrorizar e intimidar toda a população, destruindo todas as infra-estruturas básicas do país.
Resta saber, na hipótese de haver um cessar-fogo, se será permitido aos refugiados e deslocados regressarem às suas aldeias e cidades.

Observadores da ONU também são alvo militar

Four peacekeepers killed in IAF strike on UN base

UN Secretary-General Kofi Annan had earlier called for an inquery into what he called Israel's "apparently deliberate targetting" of the UN observer force.The four peacekeepers were killed after a bomb directly impacted the building and shelter of an Indian patrol base from the observer force in the town of Khiyam near the eastern end of the border with Israel, said Milos Struger, spokesman for the U.N. peacekeeping force in Lebanon known as UNIFIL (...) He also said there were 14 other incidents of firing close to this position from the Israeli side Tuesday afternoon. "The firing continued even during the rescue operation," he said.

(Fonte: http://www.haaretz.com/hasen/spages/742561.html )

Para o seguidismo acéfalo dos USA e de Israel, por parte de alguns bloguers lusitanos (ou tugas como agora se diz) como o Pacheco Pereira, o Paulo Gorjão e a malta do Insurgente e do Blasfémias estes seriam concerteza perigosos terroristas e o convento de freiras bombardeado em Beirute terá sido concerteza um depósito de armas do Hezbollah. Aliás as freiras normalmente usam os conventos para esconder armas.

segunda-feira, julho 24, 2006

Manifestação pela Paz em Jerusalém

Em Jerusalém também há israelitas que recusam a lógica da guerra e se manifestam pela paz. Shalom.

Ver aqui: http://www.tv.social.org.il/medini.htm

(comentários disponíveis apenas em hebraico)

sexta-feira, julho 21, 2006

Armas proibidas no Líbano ?

Crescem os indícios de utilização, por parte do exército do Estado de Israel, de armas proibidas pelas convenções internacionais, nomeadamente de armas químicas.

As fotografias são demasiado chocantes mas quem tiver estômago forte pode ver aqui http://fromisraeltolebanon.info/

Stop Bombing Lebanon


(Retirado de http://beirutspring.blogspot.com )

quinta-feira, julho 20, 2006

Pagar para ser evacuado

Segundo relatos colocados na blogosfera por cidadãos estrangeiros apanhados no meio da ofensiva israelita contra o Líbano, os cidadãos americanos estão a ser obrigados a assinar notas de dívida para reembolsar o governo americano dos custos da evacuação. Ao mesmo tempo, no caso das familias com mais do que uma nacionalidade, os familiares não são abrangidos pela repatriação.
"Appallingly the Americans have also announced that their citizens will be required to sign a promissory note agreeing to pay for the cost of their evacuation upon their return home. As one American put it, they are being forced to pay to flee from bombs which we paid for with our own tax dollars. Even more appallingly the Americans have said that they will be splitting families. For example if you are an American citizen married to a Lebanese then you can not bring your spouse. If the children are American citizens and the parents are not then one parent can accompany them and the other must stay put. They are forcing families to choose between staying together and staying safe. "

(relato de http://australianinbeirut.blogspot.com/ )

quarta-feira, julho 19, 2006

Jornalismo na Guerra do Líbano


Não deixa de ser intrigante que em plena ofensiva israelita no Líbano, atingindo a totalidade do seu território (e não apenas as instalações do Hezbollah, como diz a propaganda oficial) a cobertura jornalística dos acontecimentos no terreno esteja reduzida ao mínimo.
Os relatos in loco do que se passa em Beirute ou notras regiões do Líbano são poucos e reduzem-se quase só à situação dos cidadãos estrangeiros. Os correspondentes das grandes estações televisivas (CNN, SKYNEWS, ...) estão todos em ... Haifa. Em geral a perspectiva é sempre dada pelo lado do estado de Israel, praticamente sem contraditório. Um único jornalista português (José Manuel Rosendo RDP/RTP) encontra-se em Beirute e é, actualmente a única fonte credível de informação que nos chega do Líbano.
O estado de Israel aprendeu bem a lição do "embedded journalism" da guerra do Iraque. Não fosse a presença dum número significativo de cidadãos estrangeiros encurralados nesta guerra e mais uma cortina de silêncio teria descido sobre esta punição colectiva infligida sobre civis por um dos exércitos mais poderosos e sofisticados do mundo.

domingo, julho 16, 2006

O regime do "Apartheid" em Israel (2)






Rafah, Faixa de Gaza, 2004: O exército israelita procede a demolições de casas de familias palestinianas



(todas as imagens foram retiradas de: http://www.thewe.cc/contents/more/archive2004/may/war_2004_may_images_3.html )

sábado, julho 15, 2006

O regime do "apartheid" em Israel (1)

Em 1943 na Itália, na Grécia e na Jugoslávia, perante a resistência à ocupação os exército nazi procurava quebrar a ocupação através de retaliações contra a população civil. Na Irlanda durante a guerra da independência o metodo favorito do exérito inglês era queimar as casas onde moravam familiares dos "rebeldes".
Actualmente o Tsahal e o Estado de Israel utilizam os mesmos metodos e terão os mesmos resultados. Um dos metodos preferidos são as demolições arbitrárias de casas de familias palestinianas a pretexto de terem um membro da familia na resistência. Os bulldozeres avançam protegidos pelas armas do exército e em poucos minutos mulheres, crianças e idosos ficam sem casa e sem haveres.
O que nos chega da Palestina assemelha-se à situação da Àfrica do Sul no final do regime do apartheid, quando o regime para sobreviver redobrava a violência contra a população. As imagens dos massacres em locais como Soweto ou Sharpville são tragicamente semelhantes com as que chegam de Gaza e da Cisjordânia. Tal como actualmente em Israel, também aqui uma pequena minoria detinha todos os direitos, nomeadamente sobre a propriedade, enquanto que a maioria da população não tinha nenhum direito elementar.
Alguns dos que defendem esta política de repressão violenta contra todo um povo alegam que Israel "é um democracia". Quanto a Israel ser um estado "democrático" podemos dizer que um dos traços essenciais da democracia é a igualdade perante a lei, o que em Israel só acontece se for judeu mas nunca se for cristão ou muçulmano. Mesmo que aí residam há várias gerações serão sempre discriminados relativamente a emigrantes recem-chegados. Também a África do Sul no tempo do Apartheid era considerado uma "democracia", mas só para uma pequena minoria. Infelizmente ainda não chegou um Nelson Mandela à Palestina.ria. Infelizmente ainda não chegou um Nelson Mandela à Palestina.


Fotos da ofensiva israelita em Gaza aqui:
http://hrw.org/campaigns/gaza/photos/slideshow_as2/slideshow_as2.html

sexta-feira, julho 14, 2006

Gramsci nunca viu a SIC-Notícias, mas...


Mais um “debate” na SIC-Notícias com os principais gurus mediáticos do jornalismo português: António José Teixeira, Nicolau Santos e Luís Delgado. Nesta amena cavaqueira o tema de hoje era a análise à última entrevista do primeiro-ministro.
Apresentados como analistas e comentadores políticos, supostamente “imparciais” e “independentes”, da presença destes três elementos esperar-se-ia, no minimo, alguma pluralidade de pontos de vista. Puro engano. Todo o programa se pareceu mais com uma reunião de bispos para estudarem a última enciclica papal em vez de um programa de análise política. Durante uma hora de programa ficamos a saber que estes três “analistas” convergem num discurso de elogio ditirâmbico ao governo e na necessidade de mão pesada contra os “interesses sectoriais” (ou seja os reformados, os utentes dos serviços públicos, os funcionários, etc). Aliás a declaração final de Luís Delgado de que “Sócrates é o líder que eu gostaria de ver no PSD” é sintomática.
E assim todos os dias, na televisão e na “imprensa de referência” vão surgindo os comentadores que nos vão dizendo como as medidas do governo são sempre úteis e justas, mesmo quando não o são, procurando criar um falso clima de consenso. E quando há crises a culpa é sempre dos trabalhadores, mesmo quando não é verdade, como dizia há pouco tempo o Nicolau Santos a propósito da situação da General Motors na Azambuja.
Nada que nos admire, até porque Antonio Gramsci já tinha escrito algo que lido à luz da imprensa portuguesa contemporânea se torna fundamental para compreendermos estes mecanismos:
“Centenas de milhares de operários contribuem regularmente todos os dias com seu dinheiro para o jornal burguês, aumentando a sua potência. Porquê? Se perguntarem ao primeiro operário que encontrarem no elétrico ou na rua, com a folha burguesa desdobrada à sua frente, ouvirão esta resposta: É porque tenho necessidade de saber o que há de novo. E não lhe passa sequer pela cabeça que as notícias e os ingredientes com as quais são cozinhadas podem ser expostos com uma arte que dirija o seu pensamento e influa no seu espírito em determinado sentido. E, no entanto, ele sabe que tal jornal é conservador, que outro é interesseiro, que o terceiro, o quarto e quinto estão ligados a grupos políticos que têm interesses diametralmente opostos aos seus. Todos os dias, pois, sucede a este mesmo operário a possibilidade de poder constatar pessoalmente que os jornais burgueses apresentam os fatos, mesmo os mais simples, de modo a favorecer a classe burguesa e a política burguesa com prejuízo da política e da classe operária. Rebenta uma greve? Para o jornal burguês os operários nunca têm razão. Há manifestação? Os manifestantes, apenas porque são operários, são sempre tumultuosos, facciosos, malfeitores.
O governo aprova uma lei? É sempre boa, útil e justa, mesmo se não é verdade. Desenvolve-se uma campanha eleitoral, política ou administrativa? Os candidatos e os programas melhores são sempre os dos partidos burgueses. E não falemos daqueles casos em que o jornal burguês ou cala, ou deturpa, ou falsifica para enganar, iludir e manter na ignorância o público trabalhador.”